A ANASTACIA

A ANASTACIA

Minha mãe tinha por hábito visitar a imagem da escrava Anastácia que ficava aos fundos da Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos no Centro do Rio de Janeiro, eu ainda era bem pequena. Alí, enquanto ela fazia suas orações à Anastácia eu ficava observando, quase hipnotizada, a imagem. Uma mulher preta, com olhos bem azuis e com uma máscara que lhe tampava a boca e uma corrente no pescoço.

Volta e meia minha mãe me contava a história daquela mulher e isso incluía os milagres que a tornaram santa depois de sua morte. Aprendi a pedir a sua ajuda quando necessitava de socorro divino.


Segundo a sabedoria popular, Anastácia reagiu e lutou contra o sistema escravagista, suportando a dor e os maus tratos a que foi submetida durante anos. Foi condenada a usar a máscara de flandes após resistir ao estupro de um homem branco. Também ficou conhecida pelos milagres que realizou. Anastácia, literalmente, tirava os males dos adoentados "com a mão". Ironicamente, a negra também salvou a vida do filho do fazendeiro que a violentou. Anastácia tornou-se também um símbolo de fé e devoção. Quando faleceu, seus restos mortais foram sepultados na Igreja do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no Rio de Janeiro, mas sumiram após um incêndio.


Muitos anos depois sou surpreendia por uma postagem cuja imagem era de uma Anástácia livre, sem as máscaras que lhe apertavam o rosto e impedia que sua voz ecoasse.

Fui transportada ao passado. E quando surgiu a idéia de criar uma marca de moda autoral que teria como um dos diferenciais a MODA ANCESTRAL, logo me veio a cabeça a imagem daquela mulher forte que resistiu as dores da escravidão sem perder a doçura e bondade em seu coração...Ah, se a Danielle ainda criança, aquela do passado, tivesse tido a alegria de ver essa imagem da ANASTÁCIA LIVRE... :)

A obra "Monumento à voz de Anastácia" ou "Anastácia Livre", como ficou conhecida, foi criada pelo artista visual, escritor e dramaturgo, Yhuri Cruz. Foi indicado ao Prêmio PIPA em 2019 e, no mesmo ano, realiza "Pretofagia", sua primeira individual no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica - Rio de Janeiro/ RJ. Pretofagia é também o nome de sua pesquisa principal em dramaturgia e o nome do grupo de encenação com quem vem trabalhando desde 2019, contando com mais de 10 prefágicos até o momento. 

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